Ao iniciar o plantão de anestesia no Centro Obstétrico de um hospital público de Porto Alegre, encontrei três adolescentes grávidas. Deveriam estar na escola se preparando para o futuro e desfrutando este momento especial de suas vidas que é a adolescência. Infelizmente a adolescente grávida é uma triste realidade nos plantões dos hospitais públicos. Os números do Ministério da Saúde são chocantes: mais de 25% dos partos realizados pelo SUS são de meninas com menos de 19 anos de idade. São 600.000 partos por ano.
Por que estes números são assustadores? Porque estas meninas vão depender da caridade pública e da família, quando tem família organizada. Estas mães são vítimas do meio social sem informação sobre sexualidade, sobre contracepção e seus para-efeitos e sobre as doenças sexualmente transmissíveis. Na verdade estas meninas são vítimas da ignorância, da pobreza, do preconceito, da baixa auto-estima e de serviços de saúde pública que não possuem programas abrangentes para localizá-las e atendê-las antes que engravidem. Na minha opinião, os postos de saúde comunitária localizados nos bairros e vilas mais carentes de nossa cidade são a primeira linha no combate a este grave problema social. Cada adolescente que engravida significa uma derrota para a família. O custo será pago por todos nós em menos de uma geração.
Em 12 de janeiro de 2013 comemoramos os 17 anos da assinatura da lei 9.263 que trata do planejamento familiar no Brasil. Nestes últimos 17 anos, apesar da lei estar em vigor, as estatísticas demonstram que a população de baixa renda é a que menos tem acesso aos meios de contracepção.
Desejamos que as nossas autoridades públicas se sensibilizem para este grave problema que repercute no futuro de nosso país. Esperamos o comprometimento do poder público em prol desta camada da pirâmide social que merece a mesma educação e saúde que as camadas mais desenvolvidas de nossa população.
Não queremos que estas adolescentes sejam tratadas como cidadãs de segunda categoria.
* Médico e voluntário da Brasil Sem Grades.
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