A canguçuense Luiza Rodrigues Rios estampa a capa do jornal DIÁRIO POPULAR de domingo (19). Com reportagem de Michele Ferreira e fotos de Jô Folha a jovem relata o seus dia-a-dia e a batalha dentro e fora da piscina. Confira:
O próximo desafio já tem data marcada. Será de 3 a 5 de julho, em São Paulo, onde ocorrerá a 1ª Fase Nacional do Circuito Brasil de Natação. E a Zona Sul estará representada nas provas promovidas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro. Mas para intensificar o ritmo das braçadas, a atleta Luiza Rodrigues Rios, 21, precisa vencer uma primeira barreira, antes mesmo de cair na água. É o acesso ao Clube Brilhante, onde a medalhista treina há pouco mais de um ano.
A rotina aproxima-se do absurdo. Duas vezes por semana, antes de se dirigir à parada de ônibus, o melhor é ligar para a empresa de transporte coletivo e verificar se o veículo adaptado está em funcionamento. Não raro, a resposta é "não". E esse "não" tem consequências. A jovem, que dá exemplos diários de superação, fica impedida de se preparar para os compromissos que estão por vir, justamente em um momento em que os planos são de ampliar os treinos.
"Não tenho como parar. Eu tenho que fazer alguma atividade física", resume. No final do mês de março, quando a nadadora tinha pela frente a primeira competição oficial, em Curitiba, a família - moradora de Canguçu - chegou a desembolsar R$ 60,00, em um único dia, para garantir que Luiza estivesse em um dos lugares onde se sente mais à vontade: a piscina. Um processo que remete à infância: aos três anos de idade, quando a pequena - e sempre sorridente - passou a frequentar sessões de hidroterapia para o fortalecimento muscular.
O que ninguém imaginava é que aqueles primeiros movimentos e respingos ajudariam a alimentar o que, hoje, começa a se transformar no sonho de - quem sabe - chegar aos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Um sonho que espalha sorrisos em outros vários rostos, como o Diário Popular pôde acompanhar na última terça-feira, no Clube Canarinho.
Estreia, medalha e comemoração
O Calendário Esportivo Paralímpico apontava à capital do Paraná. Dias 27, 28 e 29 de março. Fase Regional Rio-Sul do Circuito Brasil Caixa Loterias. Era a primeira prova oficial a ser disputada por Luiza Rios. Modalidade: 50 Metros Livre. Classe S2; a segunda com maior nível de limitação físico-motora dos atletas.
"Fui só para ver como era", conta. E, logo na estreia, surpreendeu. A canguçuense atingiu a marca de 02:03.92 e saiu da Universidade Positivo, em Curitiba, com a medalha de 1º lugar no peito. Luiza deixou para trás, no detalhe da batida, a recordista brasileira Ana Lúcia Novaes, que neste dia fez o tempo de 02:05.43. Uma diferença de menos de dois segundos.
Chegava a hora de comemorar. E, no caso de Lu, chegava a hora de saborear uma porção de batatas fritas e brindar com um chope bem gelado. "Fiquei dois dias quase sem comer. Tava muito ansiosa". admite. E se a nadadora não conseguia se alimentar, o técnico João Paulo Brum Rodrigues, o Jotape, não conseguia dormir - descontrai a mãe de Luiza, Maribel Rodrigues Rios.
Para as provas nacionais, em São Paulo, os planos são de que a jovem concorra em duas modalidades: 50 e 100 Metros Livre.
"Acreditamos que ela tem condições. Mas o mais importante, independentemente dos resultados, é que o exemplo da Luiza se transforme em incentivo para que outras pessoas, também cadeirantes, pratiquem a natação", enfatiza Jotape, que participou de curso de dois anos para integrar a Academia Brasileira de Treinadores do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), entre 2012 e 2014.
Vitória no esporte e fora dele
O sentimento de vitória está inserido na vida dos Rios. O belo desempenho na raia 3 na tarde de sábado, 28 de março, foi mais um dia a comemorar. Mais um. Luiza nasceu prematura. Sofreu parada cardiorrespiratória de longos 13 minutos e ficou, então, com sequelas motoras. Antes de receber alta, foram 36 dias em estado grave na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal. Teve de derrotar um quadro de septicemia - infecção generalizada. E venceu. Mais uma vez.
Hoje, a jovem é aluna do 6º semestre da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). E para viver em solo pelotense, longe do contato diário com a mãe, o pai José Joaquim e a irmã Laís, 16, a atleta-acadêmica conta com o suporte de Mara Beatriz Cardoso que, de funcionária da família, tornou-se amiga e torcedora de Luiza. Nas piscinas e no dia a dia. "Ela é um grande exemplo. Está sempre feliz. Nunca se queixa de nada", reitera a fiel escudeira.
E, como alimento desse bom humor, a nadadora adora uma boa roda de samba e pagode. Detalhe: com os lábios bem pintados, exatamente como faz mesmo quando o compromisso são os treinos no Clube Brilhante: às terças sob o comando de Jotape e às sextas, sob orientação do fisioterapeuta Maurício Tavares.
É uma alegria que contagia. Em passagem por Pelotas, em 10 de abril, o sambista Diogo Nogueira também se encantou. Desceu do palco do Theatro Guarany, surpreendeu o público e cantou ao lado de Luiza Rios. Mais um motivo para sorrir.
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