Não me refiro à Faixa de Gaza, do angustiante e mortal conflito entre judeus e palestinos. Comunidades que convivem conosco há décadas, razão de amizade e admiração, a quem desejamos um consenso pacificador e definitivo. Principalmente, em prol da criação do Estado da Palestina. Mas, e entre nós brasileiros, o que ocorre?
Casas muradas de afiados arames e cercas elétricas, cães ferozes, guaritas e guardas, na nossa “faixa de casa” fortalecem-se os muros reais e imaginários que aumentam a indiferença, a discórdia e a violência.
Com números maiores que os de conflitos bélicos mundiais recentes, milhares de brasileiros perdem a vida a cada ano. Dados recentes informam que em 2012 ocorreram 56.337 assassinatos (Mapa da Violência). Embora tenhamos apenas 3% da população mundial, realizamos 13% dos homicídios. Campeões mundiais!
Trágico resultado de uma combinação de desigualdades: baixa escolaridade geral, desintegração familiar, desigualdade de renda e trabalho, desemprego, urbanização desordenada, segregação socioespacial e narcotráfico. Regra geral: a impunidade. Agravante: os indicadores de autoria criminal revelam expressiva participação de jovens.
Sobre jovens brasileiros: 30 milhões têm entre 15 e 24 anos. Dezessete milhões não estudam. Metade são desempregados. A absoluta maioria é pobre. Uma geração completa que nasceu e cresceu sob o signo da violência.
Consequentemente, sobrevêm uma sensação de impotência, uma descrença na família, na comunidade e nas autoridades. Desdém com o esforço coletivo, desrespeito às normas e às regras de convivência. Uma crise de valores e falta de perspectivas pessoais.
As dificuldades operacionais e a incompetência dos governantes traduzem-se num estado de pânico e síndrome social. Além de transformações sociais, a população espera por respostas práticas e objetivas para o enfrentamento da criminalidade, seja pelo aparelhamento e reforço policial-repressivo, da melhoria e ampliação dos presídios, e adoção de outros modelos punitivos na área judicial.
Se Estado e sociedade se omitem, os vazios de organização e poder são ocupados por outras formas de organização e poder. Regra geral, pelo predomínio do medo e da violência.
56.337 assassinatos! Não deveria ser esse o tema principal da campanha eleitoral?
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