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19 abril 2014

Páscoa Pomerana no Espírito Santo

Em Santa Maria do Jetibá, no Espírito Santo, a tradição pomerana se mantém. Lá os pequenos não se encantam somente com ovos de chocolate. O ovo cozido pintado faz muito sucesso. Confira no vídeo

A Páscoa Pomerana*
A Páscoa iniciava-se no Domingo de Ramos. Os adolescentes que iam para a igreja para serem crismados enfeitavam os caminhos com flores e ramos, e embelezavam o altar, os bancos e as paredes. Participavam os adolescentes que tinha concluído seus anos de estudo de religioso.

Os dias da semana, na semana da Páscoa, eram chamados de segunda azul, terça parda, quarta cinza, quinta verde, sexta silêncio, sábado curto e domingo longo.

No dia de quarta cinza, após o meio-dia (na parte da tarde) encerravam-se as atividades e preocupações na roça. Na quinta verde, dedicavam-se à preparação e início da festa. Faziam comidas, como tortas de palmito ou de coco, pão de trigo, que era uma novidade para a família, e pescavam em açudes, porque não se comia carne de animal na sexta silêncio (paixão).

Existia um provérbio popular antigo sobre as três principais festas: Natal, Páscoa e Pentecostes. No Natal todas as famílias comiam pão de trigo. Na Páscoa, comia quem podia, e no Pentecostes, somente os ricos.

Na sexta silêncio (Paixão) todas as pessoas respeitosamente guardavam o dia em silêncio e penitência em luto pela crucificação e morte do Filho de Deus.

No sábado curto, as crianças corriam na mata procurando flores e folhas para fazer os seus ninhos enfeitados com flores e folhas nativas, dentro de um prato, no chapéu ou em um canto da casa, onde o coelhinho pudesse presenteá-las colocando os ovos de Páscoa.

Eram ovos de galinhas cozidos pintados pelos pais e colocados nos ninhos no início da madrugada do domingo longo, pois as crianças ficavam acordadas por mais tempo para ver o coelhinho trazer os ovos. As crianças almejavam ver o famoso e bondoso coelho. Isso acontecia entre o sábado curto e o longo domingo. Era uma festa de três dias.

Antigamente, existia alguma família que se arriscava a fazer um baile no dia do sábado curto, em suas casas, onde se dançava entre as famílias, o que depois foi proibido pelos pastores.

À meia-noite, entre sábado curto e domingo longo, também acontecia que muitas famílias pegavam litros de vidro e enchiam-nos de água, que servia para curar doenças nas famílias e outros sofrimentos que eventualmente apareciam. Era conhecida como uma água abençoada e milagrosa.

Simbolizava o poder de Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou dentre os mortos oferecendo a nova vida a todo que nele crê. Assim, eles acreditavam que a água daquela noite tinha o poder da cura.

Com muito respeito e fé, essa água era utilizada aliviando sofrimentos. Em nome de Jesus Cristo, pela fé nele, a água pega à meia-noite no sábado curto curava os enfermos e doenças que atormentavam as pessoas.

Na época havia pouca alternativa para cura e a quem recorrer em situação de emergência. Faziam a oração entre os irmãos(as) colocando a mão sobre a cabeça do doente, utilizando a água.

Na madrugada no domingo longo, quando os pais e avós ainda dormiam, as crianças acordavam bem cedo, ainda às escuras. Corriam alegres e felizes de uma casa para a outra, vendo as cores dos ovos dos seus colegas.

Ao voltar das casas dos seus colegas eles traziam galhos e ramos de mato molhados de sereno e batiam levemente (stippen) nos pais e avós. Uma tradição e hábito antigos, talvez um gesto declarando a sua alegria, felicidade e desejando boa Páscoa aos seus superiores.

Como se fossem dizer aos seus superiores: acordem! Chegou a nova vida trazida pelo Papai do Céu, através do seu Filho Jesus Cristo.


*Artigo escrito por Martin Boldt (cineasta, descendente pomerano)
acurbe@pomernet.com.br 
Santa Maria de Jetibá(ES), março de 2008

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