Percentual de brasileiros que veem o país ‘na direção errada’ avança em 2024 e fecha o ano em 60%, mostra pesquisa

Levantamento do instituto Ipsos mostra que piorou a percepção da população em relação à economia do país, com preocupação crescente com a inflação

Seis em cada dez brasileiros avaliam que o país está “na direção errada”, mostra novo levantamento do instituto Ipsos obtido com exclusividade pelo GLOBO. A taxa de 60% registrada em dezembro pela pesquisa “What Worries the World” supera em nove pontos percentuais o resultado de um ano antes, o que dimensiona o deterioramento da percepção da população a respeito dos rumos do país ao longo do segundo ano de governo Lula (PT).

A pesquisa traz indícios de que o descontentamento está diretamente ligado à insatisfação das pessoas com a situação econômica do país. Dois terços da população (65%) avaliam que a economia está “mal”, enquanto 35% veem um cenário positivo. Em dezembro de 2023, esses percentuais eram de 61% e 39%, respectivamente.

— O último ano foi marcado por quedas na avaliação do governo, pela demora do governo federal na elaboração do pacote fiscal do corte de gastos, por baixos índices de aprovação tanto do governo federal quanto da gestão do ministro da Economia, e por diversos crimes policiais ocorridos em vários estados, como o flagrante de um policial militar arremessando um homem de uma ponte na Zona Sul de São Paulo, inegavelmente escancarando problemas estruturais da nossa sociedade — analisa o CEO do Ipsos, Marcos Calliari.

Na esteira da insatisfação dos brasileiros com a economia, aumentou a proporção de pessoas que apontam a inflação como uma de suas principais preocupações (26%, dois pontos percentuais acima da taxa de novembro, e quatro a mais que o registrado um ano atrás). Para Calliari, esse temor é consequência dos gastos de fim de ano e é influenciado pelo cenário de instabilidade indicado pela queda da Bolsa de Valores e pela alta do dólar.

As principais preocupações dos brasileiros continuam sendo crime e violência (com 41% das menções), saúde (38%), e pobreza e desigualdade social (37%). Essa tríade se manteve no topo das questões tidas como mais urgentes pela população ao longo de todo o ano passado.

O Brasil é o oitavo país que mais relata preocupação com a violência, num ranking que considera 29 nações que participam da pesquisa. O tema é central no debate público e o temor “se justifica por inúmeros crimes midiáticos” que marcaram 2024, como o assassinato do delator do PCC Vinicius Gritzbach, segundo analisa Calliari.

A pesquisa “What Worries the World” foi realizada por meio de um painel on-line aplicado a 23.287 pessoas de 29 países no período de 22 de novembro a 6 de dezembro. No Brasil, foram cerca de mil respondentes entre 16 e 74 anos.

O Ipsos pondera que, no país, a amostra não corresponde necessariamente a um retrato da população geral, mas sim a uma parcela “mais conectada” dos brasileiros: mais concentrada em centros urbanos, com maior poder aquisitivo e nível educacional mais elevado que a média nacional. A margem de erro é estimada em 3,5 pontos percentuais para mais ou menos.