No 4º distrito de Canguçu, mais de 50 estudantes do Ensino Médio estão sem acesso à escola. Com a suspensão de duas linhas do transporte escolar, parte dos alunos da E.E.E.M João Simões Lopes Neto estão há uma semana sem frequentar as salas de aula e outros há mais de um mês.
As empresas que prestavam o serviço suspenderam a condução diante das condições intransitáveis em que as estradas estariam. Conforme relatos da comunidade escolar, a falta de transporte é um problema constante desde o início do ano.
A aluna do primeiro ano do Ensino Médio, Aline Duarte, 16 anos, está há mais de uma semana sem ir para a escola. As provas e trabalhos de avaliação do final trimestre tiveram que ser realizados remotamente. No início do mês já haviam sido dois dias sem aula.
“A Kombi está estragada ou a estrada está muito ruim ou está chovendo e tem muito barro ou chega na escola e não tem luz”, diz sobre os problemas enfrentados rotineiramente.
Os estudantes que não conseguem frequentar a escola têm acesso apenas às atividades online, mas ficam sem as explicações diretas dos professores sobre as disciplinas. “O estudo fica mais fraco, a gente não aprende muito e depois fazendo provas como Enem ou Pave para conseguir entrar em uma faculdade a gente vê como é difícil”, lamenta Aline.
Moradora do Rincão dos Cravos, a estudante teme que o transporte na localidade também seja suspenso indefinidamente como ocorreu em outros pontos do 4º distrito. “A gente ficou muito assustado porque como os outros transportes pararam a gente ficou com medo da empresa largar nossa linha também”. Na mesma Kombi que Aline, mais 12 alunos também são transportados.
Situação frequente
Mãe de outra aluna do primeiro ano do Ensino Médio, Claudia Valadão relata que na Coxilha Piegas os estudantes estão sem transporte desde o dia 16 de outubro. Situação que seria frequente, ainda mais no inverno, devido ao regime de chuvas. “Eles só desistiram de fazer a linha sem dar maiores informações. Não foi dada previsão nenhuma e acho que neste ano nem vai ter mais transporte”, relata.
Claudia reclama da falta de resposta do poder público e de fiscalização de órgãos como o Conselho Tutelar diante da privação do direito ao acesso à educação aos alunos da zona rural. “Se a gente deixa a criança sem ir para a aula, o Conselho vem bater na porta e reclamar. Agora eles nem aparecem, não fazem nada. Já fizemos protesto e nada”.
Estradas intrafegáveis
Condição da estrada impossibilidade o translado dos alunos. (Foto: Divulgação)
Proprietário de uma das empresas que prestava o transporte escolar, Lenin Balladares, reforça que o estado das estradas seria “crítico” e que os roteiros teriam sido mantidos até quando foi possível. “Tenho registrado as inúmeras vezes que pedi e solicitei ajuda para os departamentos responsáveis na prefeitura e nunca tive êxito”, diz sobre a manutenção das vias.
Segundo Balladares, há duas alunas que estariam há mais de um ano sem frequentar a escola. “As mesmas teriam que viajar em um dos roteiros que era de nossa responsabilidade, mas nunca conseguimos chegar nem na metade do caminho da casa delas por falta de acesso”, relata.
Balladares diz que os roteiros antes feitos pela sua empresa ainda estão sem transporte porque não há interessados diante da falta de infraestrutura e pelos danos causados aos veículos. “Preço muito baixo em relação aos gastos extras que as estradas ocasionam e por conta dos acessos e estradas”.
Problema seria descumprimento do serviço
Em nota enviada via assessoria de comunicação, a prefeitura de Canguçu manifesta que:
“O problema com os roteiros do transporte escolar desta Escola Estadual refere-se ao descumprimento da empresa contratada pelo Estado para a prestação do serviço”.
Além disso, o texto ainda informa que em relação às estradas municipais, a equipe da prefeitura estaria trabalhando nos pontos que necessitam de manutenção. “No entanto, nenhum trecho das estradas compromete a realização dos roteiros; o problema está, de fato, relacionado ao não cumprimento das obrigações pela empresa contratada pelo Estado”.
Seis meses de pedido de manutenção
Conforme Balladares, antes da suspensão do transporte, foi emitido um aviso estipulando um prazo de 20 dias para a recuperação dos trechos mais críticos das estradas, para evitar a interrupção do serviço. “Avisamos a escola, a 5ª CRE, os responsáveis”. Desde abril a manutenção teria sido pedida à prefeitura. A contratação da empresa seria por modelo emergencial, o que permitiria a descontinuidade do contrato a qualquer momento.
Reportagem do jornal A hora do Sul (clique aqui para acessar)