Pode parecer exagero, mas no começo do ano eu não fazia ideia de onde essa vontade ia me levar.
ser artista no interior é quase um ato de resistência. a gente tenta plantar algo num solo que parece não ter sido preparado pra arte.
aqui tem muita gente que ainda acha que teatro é coisa de televisão, de cidade grande, de gente famosa. mas a verdade é que tem muita gente talentosa por aqui. gente que canta, dança, escreve, cria… e que quase ninguém conhece.
isso me dói.
e como já falei nas entrevistas que dei: me dá pena. porque não é falta de talento ou esforço, é falta de espaço, de incentivo, de receptividade, de olhar.
a sensação é de ser, literalmente, invisível. e eu sei que não tô sozinha nessa.
tenho conhecido outros artistas que também estão tentando, com o que têm, manter a chama acesa. gente que trabalha de dia, trabalha ensaiando de noite, inventa palco onde der.
e a gente faz porque acredita. porque sabe que arte não é luxo, é necessidade. uma sociedade sem cultura, é uma sociedade vazia. e tudo o que é vazio, é manipulado.
esse caminho meio amargo tem me mostrado muita coisa doce também: que mesmo com poucos recursos, a gente consegue emocionar, ensinar, transformar. que vale a pena continuar, mesmo quando parece que ninguém tá vendo.
e é por isso que eu não vou parar.
torço pra que meus colegas também nunca parem.
quero que a arte esteja onde o povo está. quero ver as crianças subindo num palco pela primeira vez. quero ver gente adulta resgatando sonhos antigos. quero ver as famílias se emocionando juntas. quero que quem mora aqui perceba: a beleza também acontece nessa cidade.
tô cansada de ver gente incrível que parou de tentar porque cansou de ser invisível. se isso não te incomoda… talvez tu nunca tenha amado algo a ponto de sangrar por isso.
eu amei. e ainda amo.
e é por isso que eu continuo.
por mim. por nós.
Texto: Dhiule Völz
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